O Escritor de Sonhos e O Sindicato das Bailarinas Circenses

Conheço a Bárbara de Medeiros desde 2011, estudei com ela no oitavo e nono ano do Ensino Fundamental II. Éramos as primeiras a chegar à escola, então a Babi era sempre o meu primeiro contato diário com alguém além dos meus pais. Por falar neles, o meu pai também a adorava – na verdade, adora; porque vez ou outra pergunta por ela. Minha mãe só a conhece por nome, já que meu pai vivia falando sobre o quão agradável e amorosa a Bárbara é.

Em 2012, ela lançou seu primeiro livro: O Escritor de Sonhos; no dia de seu aniversário de quatorze anos. Acontece que eu não comprei e nem li o seu livro. Não houve um motivo em específico, apenas não rolou. E preciso agradecer por não ter lido naquele tempo. Eu não teria dado valor à sua grandiosidade.

Até que no dia 27 de fevereiro de 2017, O Escritor de Sonhos completou cinco anos de vida. Em comemoração, a Bárbara liberou o livro para leitura em ePub (colocarei o link ao final do texto). Então, no dia 28, terça-feira de Carnaval, eu comecei a ler. E o tiro que O Escritor deu foi o bastante para encravar-se em meu coração. Ao ler, me peguei entrando e saindo de histórias, algumas sem final, e tendo a certeza de que o mundo que a gente cria em nossa mente é só nosso e ninguém pode interferir nele. Fiquei extasiada.

Fui envolvida por um menininho que mal nasceu e por toda a sua visão extraordinária de mundo a partir de sua morte. Depois de algumas páginas, quando o menininho falante “some” e suas indagações acabam, me senti desapontada e de volta a realidade. Porém, por pouco tempo, já que no capítulo seguinte mergulho em outro sonho; dessa vez um pouco mais curto. Logo sou acordada novamente e forçada a entrar na realidade... a qual é interrompida em segundos. Até que volto a sonhar junto com o Escritor.

Agradeço por não ter lido o livro antes. Porque na época em que a Bárbara lançou O Escritor de Sonhos eu estava com treze anos e começando a aprender o quão a realidade poderia ser ruim. Que as pessoas conseguem nos machucar com poucas palavras, que eu seria a única pessoa com quem me sentiria confortável em contar todos os meus segredos, que alguns amigos se vão sem dar tchau. Eu estava começando a compreender o mundo em que vivia e até poderia achar o livro bom e gostar, mas ele não me preencheria de verdade. Não como preencheu agora. Não me faria sentido como fez agora.

Porque com dezoito anos, e somente após ler o Escritor, eu descobri que tinha um vazio que necessitava ser preenchido. O vazio deixado pelas decepções e constatações do mundo da Marcelha prestes a completar quatorze. A mesma que se refugiou na escrita e com quinze começou o Além do Padrão. Vazio que eu não sabia que precisava depositar um livro lá. E não qualquer livro, um livro escrito por uma garota de quatorze anos que provavelmente viveu e se revoltou com tudo o que a Marcelha viveu e se revoltou um tempinho depois.

Então, Babi, obrigada.

Assim que terminei O Escritor de Sonhos no dia 28 de fevereiro, enfim comprei o segundo livro da Bárbara: O Sindicato das Bailarinas Circenses, no dia 02 de março (quinta-feira). 

Sim, resolvi ler os dois livros dela de uma vez só. (Foto: Marcelha Pereira)

Esse segundo foi lançado em 2015, no aniversário de dezessete anos da Babi. E, de novo, não o comprei na época de lançamento. Enrolei dois anos.

Com o livro finalmente em mãos, só fui ler a dedicatória que a Babi fez para mim depois de me despedir dela, enquanto caminhava para o meu Departamento, na UFRN. E sorri. Ela escreveu que esperava que o livro me alcançasse nas tardes em que o senhor Mercury não conseguisse me alcançar. Por isso, decidi guardá-lo para ler no momento certo.

Pensei que esse momento “certo” fosse demorar e estava curiosa demais para esperar, mas me segurei. E fiz bem. Porque no dia seguinte, sexta-feira, eu teria um dia bastante esquisito e uma manhã de sábado igualmente esquisita.

Assim que cheguei da Universidade, na sexta, coloquei Queen para tocar. Eu não estava nem feliz, nem triste. Em uma neutralidade sufocante e a qual eu, particularmente, odeio. Não funcionou. Resolvi que eu precisava de um banho frio, talvez as fortes emoções do dia tivessem me deixado confusa. Continuei escutando Queen. Depois fui dormir, talvez fosse o sono acumulado de uma noite mal dormida e por esse motivo nada me tirava do estado de neutralidade.

Acordei, já era sábado, e eu me sentia da mesma forma. Antes de ir para o curso de Inglês, coloquei Queen como nova tentativa de sair da bolha neutra que me cercava. Não funcionou; até que cheguei ao curso. Lá, como costumo chegar mais cedo, abri a bolsa para fazer anotações na minha agenda e vi o livro da Bárbara - o qual havia ficado na minha bolsa desde quinta.

Li a dedicatória outra vez e comecei a leitura. O livro é uma reunião de contos, poemas e crônicas, então você pode ler desordenadamente ou seguindo a ordem. Decide começar seguindo a ordem, e só deu tempo de ler o primeiro textinho, Quem raptou Peter Pan?, antes que a aula começasse. As poucas palavras foram o suficiente para a bolha da neutralidade sumir.

Automaticamente lembrei-me de uma situação em 2012, quando a Bárbara me viu chorando e com toda a sua genialidade intrínseca, me fez sentir melhor com poucas palavras. Eu não me lembro com exatidão quais foram as palavras e muito menos o motivo do meu choro, mas eu guardo na memória a cena. Porque a partir daquele dia - e de outras situações as quais me lembro melhor, mas que não cabem falar aqui - eu comecei a admirá-la ainda mais.

Obrigada mais uma vez, Babi.

Não foi em uma tarde, assim como ela desejou, mas seu segundo livro me alcançou na manhã em que a voz do Freddie Mercury não conseguiu o mesmo feito. O Sindicato das Bailarinas Circenses é uma olhada para o interior colorido da Bárbara. Os contos, os poemas, as crônicas. Cada palavrinha é algo só dela. É ela. E eu me senti sua melhor amiga ao mesmo tempo em que imaginava a Bárbara perto de mim, me dando um de seus sorrisos calorosos.

Os dois livros da Bárbara refletem duas fases dela - e acredito que duas fases minhas também. O primeiro, a fase em que ela descobre o mundo e o segundo, em que ela começa a descobrir o mundo que existe dentro dela.

Por ainda estar descobrindo o mundo que existe em mim, não terminei O Sindicato das Bailarinas Circenses. E irei fazer com que demore bastante para terminá-lo. Sinto que vou lê-lo tantas vezes, seguindo a ordem ou pegando textos específicos, que pensei em apelidá-lo de “o pequeno refúgio”.

Depois de o Ensaio Sobre a Cegueira, do José Saramago, o qual é meu livro preferido, O Sindicato foi o segundo livro a me colocar em pé, andando em círculos enquanto lia, porque fiquei inquieta demais com as palavras para permanecer sentada. Puxou-me de um jeito íntimo demais.

E eu me deixei ser levada. 



Como conseguir O Escritor de Sonhos e O Sindicato das Bailarinas Circenses:
Entre no site da Bárbara de Medeiros, https://barbarademedeiros.com/meus-livros/, que lá você encontrará o link para o arquivo em ePub de O Escritor de Sonhos, já que o livro físico está esgotado. O físico de O Sindicato das Bailarinas Circenses está temporariamente indisponível no site da Saraiva, mas você pode entrar em contato com a Bárbara e pedir o seu pelo email dela, barbarademedeiros27@gmail.com .

Ah e aproveita para ler as postagens da Babi no site dela!

Comentários

  1. Celha, fiquei me coçando pra ler o livro, devo pegar pra ler e te conto o que achar. Tô amando seu blog, muito feliz de ter vindo conferir <3

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