Um aprendizado para a Vida

29 de maio. 13h56. “A Love chegou!”, é a primeira coisa que se escuta. Logo uma Golden Retriever de 3 anos surge ao lado de seu tutor e dá para ver que é a sensação da escola. Todas as crianças têm um único foco. A maioria quer passar a mão e outras olham curiosas, já familiarizadas com a pet. Tão calma, com pelo brilhante e sedoso, Love se mantém quieta na dela. Aceita beijos, cheiros e abraços. Um nome nunca poderia defini-la tão bem. Amor. É o que ela acende nos corações daquelas crianças.

Quando Love entra na sala de aula dos alunos do Estágio V, todos estão animados e falam ao mesmo tempo. “É a Love! A Love chegou! Olha a Love!”. E é assim que o tutor dela, Henrique Gava, de 34 anos, acha o momento para iniciar seu trabalho na turma. A primeira regra estabelecida por ele com as crianças de 5 a 6 anos é a de que eles devem prestar atenção, a segunda é que não podem gritar e a terceira é que precisam escutar.

Dois alunos são sorteados e encenações começam com a ajuda dos dois para mostrar às outras crianças que devem agir com calma e cautela quando virem um animal que não conhecem na rua. Há animação e felicidade por parte dos meninos que participam da pequena peça, assim como os que assistem, mas também choro. Uma menina tem medo de cachorro e fica assustada com a Love pulando. Está tudo bem.

Vida. Curiosamente, esse é o nome da menina dos cabelos escuros que tem medo da Love. Henrique conversa com ela e diz que está tudo bem, que não precisa interagir com a Golden e muito menos chegar perto se não quiser. Ela se acalma e se mantém afastada. Vida é uma criança que foi mordida por um cachorro e por isso está com medo.

A encenação segue. Henrique brinca com Love e a deixa passar por entre suas pernas. Tudo para familiarizar as crianças para a próxima atividade: todo mundo interagir com a cachorra. Mas sem apertar, morder, puxar as orelhas ou o rabo. As crianças se animam ainda mais. Fazem um círculo ao redor da Golden Retriever e enchem Love com o sentimento que a nomeia.

Essa é a Love! (Foto: Sthefanny Ariane)
Outras atividades seguem. Agora as crianças devem desenhar o sentimento que querem passar para a cachorra e depois mostrar para ela. Love continua em seu próprio mundo, calma e dócil como nenhum outro. “Você sabem brincar de estátua? Vamos tentar fazer algo parecido com a Love?”, pergunta Henrique. Todos concordam, é claro. Eufóricos. Porém, Vida continua distante.

Contudo, chega a hora da atividade final de dar comida na boca da Love. E a Vida consegue fazer carinho nela! E dar o petisco em sua boca! Com toda a cautela, mas consegue. E que feliz! Pequenos avanços. Intervenção assistida por cães é isso, então! Permitir às crianças entrarem em contato com o animal, fazer com que elas recebam instruções de como devem agir e tentar fazer o medo ser vencido por aquelas que têm traumas. Que sensível.

E os efeitos nas crianças vão além. O tutor trabalha atenção, paciência, cuidado e consciência. Aspectos que se referem não só à como elas devem agir com animais, mas que possuem poder de influenciar a forma como elas vão se comportar frente outros desafios da vida. E falando sobre vida, ainda tem a aluna Vida. Ah, com certeza ela se lembrará desse dia em que conseguiu dar o passo adiante para superar seu medo de cachorros. Talvez não se recorde em detalhes, mas saberá que conheceu uma Love que a ajudou.

Love e Vida. Que dupla espetacular foi unida.

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