Quando a única coisa a se admirar é o teto
Dentro de um quarto a única
coisa a se admirar é o teto. Caso alguém entrasse poderia achar que estou morta, se não fosse pelo barulho da minha respiração. Meu corpo
ainda é considerado vivo, mas minha alma está falecendo e dando seus últimos
suspiros.
Fechei meus olhos faz algumas horas e viajei por um mundo
ainda não viajado. Voltei ao tempo da minha infância. Pude ver uma menininha
dos cabelos pretos lisos com cachinhos bem definidos em suas pontas. Ela estava
sentada olhando para uma máquina de escrever, admirando o que mais tarde seria
a sua fonte maior de prazer e o único presente que seu pai daria com todo o
amor. Mal sabendo o que seu futuro lhe reservaria. Em como seria inconformada
com a raça de qual faria parte.
Depois fui visitar uma menina segurando o choro e tendo que
lidar com coisas que uma criança não deveria. Vi essa mesma menina sendo
chamada de chorona por mostrar suas emoções. Se soubesse que ser taxada de
chorona em tempos futuros se tornaria um elogio para ela, não teria se
incomodado tanto. Se ela entendesse que demonstrar emoções é algo raro em uma
sociedade seca e sem sentimentos, que chorar na frente do outro é mostrar
fraqueza e despreparo, ela teria chorado mais e alagado esse mundo com suas
lágrimas.
Soubesse essa moreninha dos cabelos negros que suas
lágrimas tocariam o coração de uma pessoa, teria escrito mais sobre elas.
Mostrado seu lado humano -cheio de incertezas, medos e angustias- e deixado o
mecânico -cheio de supostas perfeições cobrindo possíveis erros de fabricação- de
lado antes. Ela estava
cansada de ser incompreendida por transmitir o que sente. Por ser transparente
e ao mesmo tempo compacta. Por ser antônimo dela mesma.
E cá estou, deitada pensando no que escrever. E enquanto
escrevo minha alma revive como uma fênix e os meus suspiros voltam a ser a respiração
desregulada de sempre.
Até uma próxima.
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