Quando a única coisa a se admirar é o teto

(Foto: Divulgação/Internet)

Dentro de um quarto a única coisa a se admirar é o teto. Caso alguém entrasse poderia achar que estou morta, se não fosse pelo barulho da minha respiração. Meu corpo ainda é considerado vivo, mas minha alma está falecendo e dando seus últimos suspiros.

Fechei meus olhos faz algumas horas e viajei por um mundo ainda não viajado. Voltei ao tempo da minha infância. Pude ver uma menininha dos cabelos pretos lisos com cachinhos bem definidos em suas pontas. Ela estava sentada olhando para uma máquina de escrever, admirando o que mais tarde seria a sua fonte maior de prazer e o único presente que seu pai daria com todo o amor. Mal sabendo o que seu futuro lhe reservaria. Em como seria inconformada com a raça de qual faria parte.

Depois fui visitar uma menina segurando o choro e tendo que lidar com coisas que uma criança não deveria. Vi essa mesma menina sendo chamada de chorona por mostrar suas emoções. Se soubesse que ser taxada de chorona em tempos futuros se tornaria um elogio para ela, não teria se incomodado tanto. Se ela entendesse que demonstrar emoções é algo raro em uma sociedade seca e sem sentimentos, que chorar na frente do outro é mostrar fraqueza e despreparo, ela teria chorado mais e alagado esse mundo com suas lágrimas.

Soubesse essa moreninha dos cabelos negros que suas lágrimas tocariam o coração de uma pessoa, teria escrito mais sobre elas. Mostrado seu lado humano -cheio de incertezas, medos e angustias- e deixado o mecânico -cheio de supostas perfeições cobrindo possíveis erros de fabricação- de lado antes. Ela estava cansada de ser incompreendida por transmitir o que sente. Por ser transparente e ao mesmo tempo compacta. Por ser antônimo dela mesma.

E cá estou, deitada pensando no que escrever. E enquanto escrevo minha alma revive como uma fênix e os meus suspiros voltam a ser a respiração desregulada de sempre.

Até uma próxima.

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